O Polinômio de Taylor

Já vimos que a derivada em um ponto $x_0$ permite uma aproximação polinomial de grau $1$ de uma função $f$, na forma:

\begin{equation}f(x) = f(x_0) + f'(x_0)(x-x_0) + erro(x) \mbox{ e } \tag{1}\end{equation} \begin{equation}\lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{x-x_0} = 0 \tag{2}\end{equation}

Vimos também que, sendo a derivada única, $f'(x_0)$ é a única constante que pode ser usada como coeficiente angular de forma a obter as equações 1 e 2, considerando que o $erro$ é a diferença entre $f$ e a aproximação afim. É natural nos perguntarmos o que aconteceria se quiséssemos uma aproximação de grau $2$ (ou maior) em uma vizinhança de $x_0$. Isto é, poderíamos perguntar: será que existem $a_1$ e $a_2$ tais que:

\begin{equation}\tag{3}f(x) = f(x_0) + a_1(x-x_0) + a_2 {(x-x_0)}^2 + erro(x) \mbox{?}\end{equation}

A próxima seção é dedicada a estudar essa aproximação. Na primeira parte, construímos a dedução da aproximação (ou algo muito perto disso); na segunda, discutimos algumas propriedades e aplicações. A primeira parte (dedução) envolve detalhes bastante técnicos. Sendo esse um primeiro curso de cálculo, o aluno que não se sentir à vontade em acompanhar tantos detalhes, pode perfeitamente pular a primeira parte (a dedução) e, acreditando que a aproximação existe, passar à subseção dedicada às aplicações e considerações gerais.

Justificativa da Fórmula (quase uma dedução)

Vamos supor que existe alguma aproximação como na equação 3. Se substituirmos $x$ por $x_0$ na equação teremos $f(x_0) = f(x_0) + erro(x_0)$ de onde concluímos que, se a aproximação existir, $erro (x_0) = 0$.

De modo análogo ao que procedemos na definição de derivada, queremos que $erro(x)$ vá a $0$ mais rápido que ${(x-x_0)}^2$ para que, perto de $x_0$, a parte quadrática do polinômio sobressaia sobre o $erro(x)$. Isso significa, a exemplo do que fizemos na definição de derivada, que estamos impondo a condição:

\begin{equation}\tag{4}\lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{(x-x_0)^2} = 0\end{equation}

Observe que a equação 4 implica, também, que $erro'(x_0) = 0$. De fato,

\[erro'(x_0) = \lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)-erro(x_0)}{x-x_0}\]

e, como $erro(x_0) = 0$, temos:

\[erro'(x_0) = \lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{x-x_0}\]

Mas, como estamos supondo que

$$\lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{(x-x_0)^2} = 0$$

podemos escrever:

\begin{eqnarray}0 \leq |erro'(x_0)| = \left| \lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{x-x_0}\right|\leq \left|\lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{(x-x_0)^2}\right| = 0\end{eqnarray}

Então, nosso problema completo é verificar quais seriam as constantes $a_1$ e $a_2$ que poderiam nos levar a essa aproximação. Vamos admitir que $f$ pode ser derivada quantas vezes desejarmos em algum intervalo contendo $x_0$. Derivando a equação 3 uma vez, temos:

\begin{equation}\tag{5}f'(x) = a_1 + 2a_2 (x-x_0) + erro'(x).\end{equation}

Avaliando a equação 5 em $x=x_0$ e lembrando que $erro'(x_0) = 0$ obtemos:

\begin{equation}\tag{6}f'(x_0) = a_1\end{equation}

De onde sabemos que $a_1$ deve ser a derivada de $f$ em $x_0$. Com essa informação, reescrevemos 5 como:

\begin{equation}f'(x) = f'(x_0) + 2a_2 (x-x_0) + erro'(x)\end{equation}

Passando $f'(x_0)$ para o lado esquerdo da igualdade e dividindo os dois lados por $(x-x_0)$ temos:

\begin{equation}\tag{7}\frac{f'(x) - f'(x_0)}{x-x_0} = 2a_2 + \frac{erro'(x)}{(x-x_0)} \\\end{equation}

.

Tomando $\lim_{x \to x_0}$ dos dois lados da equação, vem:

\begin{equation}\tag{8}\lim_{x \to x_0}\frac{f'(x) - f'(x_0)}{x-x_0} = \lim_{x \to x_0} 2a_2 + \cancelto{0}{\lim_{x \to x_0}\frac{erro'(x)}{(x-x_0)}}\end{equation}

Na equação 8 usamos que:

\[\lim_{x \to x_0}\frac{erro'(x)}{(x-x_0)} = \lim_{x \to x_0}\frac{\frac{erro(x) - erro(x_0)}{(x-x_0)}}{x-x_0} = \lim_{x \to x_0}\frac{erro(x) }{(x-x_0)^2}\]

Da equação 8 concluímos que

$$2a_2 = f''(x_0).$$

Reescrevemos as equações 3 e 4 como

\begin{equation}\tag{9}f(x) = f(x_0) + f'(x_0)(x-x_0) + \frac{f^{(2)}(x_0)}{2} {(x-x_0)}^2 + erro(x)\end{equation} \begin{equation}\tag{10}\lim_{x \to x_0}\frac{erro(x)}{(x-x_0)^2} = 0\end{equation}

Concluímos que, se for possível escrever $f(x)$ como uma aproximação polinomial de grau $2$ na forma da equação 3 com o erro se aproximando de $0$ mais rápido que $(x-x_0)^2$ quando $x \to x_0$, $a_1$ deve ser $f'(x_0)$ e $a_2$ deve ser $\frac{f''(x_0)}{2}$.

Poderíamos repetir o procedimento, buscando uma aproximação de grau 3 da forma:

\[f(x) = f(x_0) + a_1(x-x_0) + a_2(x-x_0)^2 + a_3 (x-x_0)^3 + erro(x)\]

Supondo que essa aproximação exista, que $f$ seja de classe $C^4(I)$ - onde $I$ é algum intervalo em torno de $x_0$ - chegaríamos à conclusão que $a_3$ estaria relacionado com a terceira derivada de $f$; mais precisamente, $a_3 = \frac{f^{'''}(x_0)}{3!}$ (em que o símbolo ``$!$'' representa fatorial).

O polinômio de Taylor, aplicações e considerações gerais

Assista à videoaula "Polinômio de Taylor"

Na seção anterior justificamos o Teorema a seguir:

Teorema 1

Se $f$ tiver $n+1$ derivadas em algum intervalo $I$ contendo $x_0$ (em particular isso implica que $f \in C^n(I)$) então, é possível fazer a aproximação polinomial

\begin{equation}\tag{11}f(x) = f(x_0) + f'(x_0) (x-x_0) + \frac{f''(x_0)}{2!} (x-x_0)^2 + \frac{f^{'''}(x_0)}{3!}(x-x_0)^3 + \cdots + \frac{f^{(n)}(x_0)}{n!}(x-x_0)^n + erro(x)\end{equation}

em que $\lim_{x \to x_0} \frac{erro(x)}{(x-x_0)^{n}} = 0$.

O polinômio:

\begin{equation}\tag{12}P(x) = f(x_0) + f'(x_0) (x-x_0) + \frac{f''(x_0)}{2!} (x-x_0)^2 + \frac{f^{(3)}(x_0)}{3!}(x-x_0)^3 + \cdots + \frac{f^{(n)}(x_0)}{n!}(x-x_0)^n\end{equation}

é conhecido como polinômio de Taylor de ordem (ou grau) $n$ da função $f$ e é muito usado para aproximar funções. Existem várias fórmulas para o $erro$ (diferença entre $f(x)$ e $P(x)$). Uma estimativa muito usada é conhecida como fórmula de Lagrange, que colocamos no teorema a seguir.

Teorema 2

Nas mesmas hipóteses do Teorema 1, existe um $c$ entre $x_0$ e $x$ ($x<c<x_0$ ou $x_0 < c < x$) tal que:

\begin{equation}\tag{13}erro(x) = \frac{f^{(n+1)}(c)}{(n+1)!} (x-x_0)^{n+1}\end{equation}

Mais uma vez, se explicita que o erro tende a zero mais rápido que $(x-x_0)^n$, o que significa que, quanto maior o $n$ ou, equivalentemente, quanto mais vezes você puder derivar a função, menor será o erro da aproximação no limite quando $x\to x_0$. Vale ressaltar que o fato do erro ser pequeno, no limite, para $n$ grande, diz que a aproximação é boa em algum intervalo em torno de $x_0$. Todavia, o tamanho desse intervalo depende muito das características particulares da função que está sendo aproximada. Muitas vezes, o intervalo em que essa aproximação é boa é bastante pequeno. Além disso, é possível que tenhamos que tomar $n$ muito grande para conseguir uma boa aproximação.

As figuras ??? e ??? exibem em vermelho o gráfico de $\cos(10x)$ e, em azul, os gráficos de polinômios de Taylor (de ordem $3$ e $10$, respectivamente) de $\cos(10x)$. Nas figuras ??? e ??? estão os gráficos de $\cos(x)$ em vermelho e, em azul, as aproximações de ordem $3$ e $10$, respectivamente. Vamos comparar os intervalos em que as aproximações têm erros pequenos. Note que a amplitude do intervalo (em torno de $0$) em que as aproximações são boas, é muito maior na função $\cos(x)$ do que na função $\cos(10x)$. Ambas as funções são de classe $C^{\infty} (\mathbb{R})$. O que faz com que o tamanho desses intervalos varie tanto é a presença de "picos mais íngremes" no gráfico de $\cos(10x)$. Essa noção pode ser formalizada com um conceito conhecido como módulo de continuidade de uma função. Aqui, estamos apenas exemplificando.

Grosso modo, o módulo de continuidade de $f$ em um intervalo $[a,b]$ é dado pela variação máxima de $f$ quando $[a,b]$ é particionado em subintervalos, cada vez menores.

$\cos(10x)$ em vermelho e sua aproximação pelo polinômio de Taylor de ordem $3$ (em azul).

$\cos(10x)$ em vermelho e sua aproximação pelo polinômio de Taylor de ordem $10$ (em azul).

$\cos(x)$ em vermelho e sua aproximação pelo polinômio de Taylor de ordem $3$ (em azul).

$\cos(x)$ em vermelho e sua aproximação pelo polinômio de Taylor de ordem $8$ (em azul).

Frequentemente, o polinômio de Taylor de ordem $n$ da função $f$, em torno de $x_0$, é escrito como:

\begin{equation}\tag{14}\sum_{j=0}^n \frac{f^{(j)}(x_0)}{j!}(x-x_0)^j\end{equation}

Quando se considera o $\lim_{n \to \infty} \sum_{j=0}^n \frac{f^{j}(x_0)}{j!}(x-x_0)^j$ obtemos uma soma infinita, conhecida como série de Taylor da função.

Para calcularmos o polinômio de Taylor de grau $n$, em torno de $x_0$, de uma função, precisamos determinar suas derivadas em $x_0$. Nos próximos exemplos, calculamos alguns casos bem conhecidos.

Exemplo 1

Obtenha o polinômio de Taylor de grau 6, em torno de $x_0=0$, de $f(x) = e^x$.

Solução

Vamos calcular as derivadas de ordem $n$ de $e^x$, para $n = 1,2, \ldots, 6$. No caso da exponencial, temos que $e^x = f^{(0)}(x)= f^{(1)}(x) = f^{(2)}(x) = \cdots = f^{(6)}(x)$. Como estamos calculando em torno de $x_0=0$, vamos avaliar cada uma das derivadas em $x=0$. Como todas as derivadas valem $e^x$, temos, $f^{(n)}(x)|_{x=0} = e^x|_{x=0} =1$. Usando a equação 12 temos o polinômio de Taylor da exponencial:

\begin{eqnarray}\tag{15}e^x & \approx f(x_0) + f'(x_0) (x-x_0) + \frac{f''(x_0)}{2!} (x-x_0)^2 + \frac{f^{'''}(x_0)}{3!}(x-x_0)^3 + \cdots + \frac{f^{(n)}(x_0)}{n!}(x-x_0)^n\\ \\& = 1+ x + \frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3!} + \frac{x^4}{4!} + \frac{x^5}{5!} + \frac{x^6}{6!}\end{eqnarray}

Observe que se tomarmos infinitos termos na expressão polinomial, (admitindo que, nesse caso, o erro seja $0$, o que é verdade mas não provamos) obteremos:

\[e^x = 1+ x + \frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3!} + \frac{x^4}{4!} + \frac{x^5}{5!} + \frac{x^6}{6!} + \cdots\]

derivando dos dois lados:

\[\begin{array}{lll}(e^x)' & = & \left( 1+ x + \frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3!} + \frac{x^4}{4!} + \frac{x^5}{5!} + \frac{x^6}{6!} + \cdots\right)'\\& & \\& = & 1+ x + \frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3!} + \frac{x^4}{4!} + \frac{x^5}{5!} + \frac{x^6}{6!} + \cdots\end{array}\]

Ao derivarmos a expressão, obtemos a própria expressão, o que é compatível com o fato da função exponencial ter por derivada ela mesma.

Exemplo 2

Obtenha o polinômio de Taylor de ordem $6$, em torno de $x_0 = 0$ da função $f(x) = \cos(x)$.

Solução

Para usar a fórmula, precisamos calcular as derivadas de $\cos(x)$ até ordem $6$ e avaliar em $x=0$. Fazemos isso na tabela a seguir:

{$n$} $f^{(n)}(x)$ $f^{(n)}(0)$
$0$$\cos(x)$ $1$
$1$ $-\mathrm{sen}(x)$ $0$
$2$ $-\cos(x)$ $-1$
$3$ $\mathrm{sen}(x)$ $0$
$4$ $\cos(x)$ $1$
$ 5$ $-\mathrm{sen}(x)$ $0$
$6$ $-\cos(x)$ $ -1$

Usando os cálculos da tabela, e usando que $f(x) = \cos(x)$ escrevemos:

\begin{eqnarray}\tag{16}\cos(x) & \approx f(x_0) + f'(x_0) (x-x_0) + \frac{f''(x_0)}{2!} (x-x_0)^2 + \frac{f^{'''}(x_0)}{3!}(x-x_0)^3 + \cdots + \frac{f^{(n)}(x_0)}{n!}(x-x_0)^n \\ \\& = 1 - \frac{x^2}{2!} + \frac{x^4}{4!} - \frac{x^6}{6!}\end{eqnarray}

Observe que o polinômio encontrado é uma função par, assim como a função cosseno.

Exemplo 3

Calcule $\lim_{x \to 0}\frac{\cos(x) - 1}{x}$.

Solução

Sabemos que, no limite, o polinômio de Taylor aproxima $\cos(x)$. Usando o exemplo anterior, escrevemos:

\[\begin{array}{lll}\lim_{x \to 0}\frac{\cos(x) -1}{x} & = & \lim_{x \to 0}\frac{1}{x} \left( 1 - \frac{x^2}{2!} + \frac{x^4}{4!} - \frac{x^6}{6!} + \cdots + \frac{x^{2n}}{(2n)!} +erro(x) - 1\right) \\ \\& = & \lim_{x \to 0}\frac{1}{x} \left( \frac{x^2}{2!} + \frac{x^4}{4!} - \frac{x^6}{6!} + \cdots +\frac{x^{2n}}{(2n)!} +erro(x)\right) \\ \\& = & \lim_{x \to 0} \left(\frac{x}{2!} + \frac{x^3}{4!} - \frac{x^5}{6!} + \cdots + \frac{x^{2n-1}}{(2n)!} + \frac{erro(x)}{x} \right) \\ \\& = & 0\end{array}\]

Várias manipulações algébricas podem ser feitas com polinômios de Taylor. Por exemplo, se a função cujo polinômio estamos calculando puder ser derivada $n$ vezes perto de $x_0$, o polinômio de Taylor de ordem $n-1$ da derivada pode ser obtido derivando o polinômio de Talor da função, como no exemplo a seguir.

Exemplo 4

Obtenha o polinômio de Taylor de ordem $5$ de $f(x) = \mathrm{sen}(x)$.

Solução

Vamos proceder derivando o polinômio de Taylor de $g(x) = -\cos(x)$. Temos:

\[-\cos(x) \approx -1 + \frac{x^2}{2!} - \frac{x^4}{4!} + \frac{x^6}{6!}\]

Derivando os dois lados da equação, temos o polinômio de Taylor de ordem $5$ de $\mathrm{sen}(x)$:

\[\mathrm{sen}(x) \approx x - \frac{x^3}{3!} + \frac{x^5}{5!}\]

Listamos a seguir aproximações muito usadas, provenientes de cálculos de polinômios de Taylor, todas em torno de $x_0=0$. Nessa lista, em que todas as funções são de classe $C^{\infty}$ nos seus domínios não estabelecemos a ordem do polinômio, uma vez que podemos aumentar $n$ tanto quanto quisermos:

\[\begin{array}{llll}e^x & \approx & 1 + x +\frac{x^2}{2!} + \frac{x^3}{3!} + \frac{x^4}{4!} + \cdots + \dfrac{x^n}{n!} & n = 0,1,2,3 \ldots \\\cos(x) & \approx & 1 - \frac{x^2}{2!} + \frac{x^4}{4!} - \frac{x^6}{6!} + \cdots + \dfrac{(-1)^n x^{2n}}{(2n)!} & n = 0,1,2,3 \ldots\\\mathrm{sen}(x) & \approx & x - \frac{x^3}{3!} + \frac{x^5}{5!} + \cdots + \dfrac{(-1)^nx^{2n+1}}{(2n+1)!} & n =0, 1,2,3, \ldots \\\ln(1+x) & \approx & x -\frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3} - \frac{x^4}{4}+ \frac{x^5}{5} + \cdots + \dfrac{(-1)^{n} x^{n+1}}{n+1} & n = 0, 1,2,3 \ldots \\\end{array}\]

Observe que no caso do $\ln(1+x)$, $x$ varia em torno de $0$, de modo que $\ln(1+x)$ está variando em torno de $\ln(1)$. Vamos resolver mais alguns exemplos usando as aproximações dessa lista.

Exemplo 5

Vamos considerar o polinômio de Taylor de ordem $5$ para $e^x$ no ponto $x=1$.

\[e \approx 1 + 1 + \frac{1}{2!} + \frac{1}{3!} + \frac{1}{4!} + \frac{1}{5!}\]

Com que precisão, esse polinômio aproxima o número $e$?

Solução

Sabemos que o erro máximo é dado por $\frac{f^{(n+1)}(c)}{(n+1)!} $ para algum $c$ entre $0$ e $1$. No caso da exponencial, ${f^{(n+1)}(c) = e^c}$ e como $c \in (0,1)$ estimamos o valor máximo para a derivada como $e^1 <3$. Portanto podemos escrever:

\begin{equation}\tag{17}0 < \left|e -\left( 1 + 1 + \frac{1}{2!} + \frac{1}{3!} + \frac{1}{4!} + \frac{1}{5!}\right)\right| \leq \frac{3}{6!}\end{equation}

Usando um polinômio de ordem $n$, escrevemos:

\begin{equation}\tag{18}0 \leq \left|e -\left( 1 + 1 + \frac{1}{2!} + \frac{1}{3!} + \frac{1}{4!} + \frac{1}{5!} + \cdots + \frac{1}{n!}\right)\right| \leq \frac{3}{(n+1)!}\end{equation}

Usando o Teorema do confronto (tomando $ \lim_{n \to \infty}$) na equação 18 podemos escrever uma igualdade:

\[e = \sum_{n=0}^\infty \frac{1}{n!}\]

Isso permite descrever o número $e$ como limite de uma soma.

Exemplo 6

Calcule um valor aproximado para a soma:

\[1 + 2 + \frac{2^2}{2!} + \frac{2^3}{3!} + \frac{2^4}{4!} + \frac{2^5}{5!}\]
Solução

olhando a expressão, vemos que ela é um polinômio de Taylor de $e^x$ em $x=2$. Portanto, podemos tomar $e^2$ como valor aproximado da expressão.

Exemplo 7

Quanto vale $ \lim_{x \to 0}\frac{\mathrm{sen}(x)}{x}$?

Solução

A aproximação do seno é:

\[x - \frac{x^3}{3!} + \frac{x^5}{5!} + \cdots + \dfrac{(-1)^n x^{2n+1}}{(2n+1)!}\]

Podemos dividir essa aproximação por $x$ para obter:

\[\frac{\mathrm{sen}(x)}{x} = 1 - \frac{x^2}{3!} + \frac{x^4}{5!} -\frac{x^6}{7!}+ \cdots \dfrac{(-1)^n x^{2n+1}}{(2n+1)!} + \dfrac{erro(x)}{x}\]

Note que, se tomarmos o limite quando $x \to 0$ da aproximação, ela tende a $1$, como deveria acontecer. Note também que o polinômio de Taylor do seno é uma função ímpar.

Exemplo 8

Qual o polinômio de Taylor, em torno de $x=0$ de $\ln(1+2x)$?

Solução

Vamos usar a aproximação de $\ln(1+x)$:

\[\ln(1+x) \approx x -\frac{x^2}{2} + \frac{x^3}{3} - \frac{x^4}{4}+ \frac{x^6}{6} + \cdots + \dfrac{(-1)^n x^{n+1}}{n+1}\]

Substituindo $x$ por $2x$, escrevemos:

\[\ln(1+2x) \approx 2x -\frac{4x^2}{2} + \frac{8x^3}{3} - \frac{2^4x^4}{4}+ \frac{2^6x^6}{6} + \cdots + \dfrac{(-1)^n 2^{n+1}x^{n+1}}{n+1}\]

O exemplo anterior induz uma pergunta natural. Suponha que $g(x)$ é uma função qualquer. Se $P(x)$ é polinômio de Taylor de $f$, será que $P(g(x))$ é o polinômio de Taylor de $f(g(x))$? Repare que foi exatamente isso que fizemos no exemplo anterior se pensarmos que $f(x) = ln(1+x)$ e $g(x) = 2x$. A resposta dessa pergunta depende de vários fatores. Vamos dar aqui uma resposta simples, que está longe de esgotar o assunto, mas ajuda em vários problemas.

Proposição 1

Suponha que $f \in C^{\infty}(I_{0})$ em que $I_{0}$ é algum intervalo em torno de $0$. Suponha que o polinômio de Taylor de ordem $n$ de $f(x)$ em torno de $0$ é $P(x)$. Então, $P(ax^j)$ é polinômio de Taylor (de alguma ordem) de $f(ax^j)$, em torno de $0$.

Exemplo 9

Obtenha o polinômio de Taylor, em torno de $0$ de ordem $10$ de $e^{x^2}$.

Solução

Sabemos que o polinômio de Taylor de $e^x$ é:

\[P(x) = 1 +x + \frac{x^2}{2!} + \frac{x^3}{3!} + \cdots + \dfrac{x^n}{n!}\]

Fazendo $P(x^2)$ podemos escrever:

\[e^{x^2} \approx 1 + x^2 + \frac{x^4}{2!} + \frac{x^6}{3!} + \frac{x^8}{4!}+ \frac{x^{10}}{5!}\]
Exemplo 10

Obtenha o polinômio de Taylor de $\mathrm{sen}(x^3)$ em torno de $x=0$.

Solução

Sabemos que o polinômio de Taylor de $\mathrm{sen}(x)$ é dado por:

\[x - \frac{x^3}{3!} + \frac{x^5}{5!} + \cdots + \dfrac{(-1)^n x^{2n+1}}{(2n+1)!}\]

Substituindo $x$ por $x^3$, temos o polinômio de $\mathrm{sen}(x^3)$:

\[x^3 - \frac{x^9}{3!} + \frac{x^{15}}{5!} - \frac{x^{21}}{7!} + \cdots + \dfrac{(-1)^n x^{6n+3}}{(2n+1)!}\]

Lema: Se $p(x)$ é um polinômio de grau $n$ o polinômio de Taylor de ordem $n$ de $p(x)$ é ele mesmo.

Para concluir essa discussão, por ora, fazemos algumas observações sobre polinômios de Taylor em geral.

  • Polinômios de Taylor são usados para aproximar funções perto de algum ponto de seu domínio.

  • Para que um polinômio de grau $n$ possa ser calculado em torno de um ponto, é suficiente que a função tenha $n+1$ derivadas no ponto.

  • O erro na aproximação em tornos de $x_0$ por um polinômio de grau $n$ em um ponto $x $ tende a $0$ mais rápido que $(x-x_0)^n$, supondo que a função tenha $n+1$ derivadas contínuas.