Estudo da Concavidade e Pontos de Inflexão

No esboço de um gráfico é importante conhecer o tipo de concavidade em cada intervalo, como o que acontece quando traçamos o gráfico de uma função quadrática, sendo que na quadrática a concavidade não muda, porém, em geral a concavidade muda, considerando todo o domínio da função. Lembra do gráfico de y=x3? Concavidade para baixo em (,0) e para cima em (0,+). Vejamos de forma geométrica como definimos concavidade para cima e concavidade para baixo.

Nas figuras abaixo as retas tangentes foram traçadas em vários pontos dos gráficos das funções em um intervalo I. A posição das tangentes em relação ao gráfico vai determinar a concavidade da função. O primeiro gráfico é de uma função com concavidade para cima no intervalo I de definição, pois as retas tangentes ficam abaixo do gráfico da função numa vizinhança do ponto de tangência. O segundo é de uma função com concavidade para baixo no intervalo I de definição. Neste caso, as retas tangentes ficam acima do gráfico da função numa vizinhança do ponto de tangência.

Retas tangentes abaixo do gráfico da função - concavidade para cima em I.

Retas tangentes acima do gráfico da função - concavidade para baixo em I.

Um ponto cD(f), onde a função é contínua e há uma mudança de concavidade é dito um ponto de inflexão da função e (c,f(c)) um ponto de inflexão do gráfico da f. Se existir reta tangente num ponto de inflexão, tal reta vai ``atravessar'' o gráfico nesse ponto, se colocando abaixo do gráfico na parte em que a concavidade for para cima e acima do gráfico na outra parte de concavidade para baixo. Por exemplo, a função seno possui infinitos pontos de inflexão do tipo x=kπ, onde kZ. Veja nas figuras abaixo exemplos de pontos de inflexão e observe as retas tangentes em vermelho.

Todos os pontos do tipo x=kπ, onde kZ, são de inflexão e em tais pontos as retas tangentes são inclinadas e ``atravessam'' o gráfico.

A origem (0,0) é um ponto de inflexão e em x=0 a f não possui derivada, nem reta tangente.

P=(1,1) é um ponto de inflexão e em tal ponto a reta tangente ``atravessa'' o gráfico e é vertical (a f não é derivável em x=1).

P=(1,1) é um ponto de inflexão e em tal ponto a função tem derivada nula, a reta tangente é horizontal e ``atravessa'' o gráfico.

Teorema 1

(Teste da Concavidade)

  • Se f(x)>0,xI a f tem concavidade para cima em I;

  • Se f(x)<0,xI a f tem concavidade para baixo em I;

Para uma função quadrática, do tipo f(x)=ax2+bx+c, costumamos dizer que a parábola associada possui concavidade para cima quando a>0, para baixo quando a<0. E, realmente, f(x)=2a e está de acordo com o Teorema 1 anterior.
Uma consequência do Teorema 1 é que um ponto de continuidade da função onde há troca do sinal da f é um ponto de inflexão.
Nos próximos exemplos vamos estudar a concavidade das funções e determinar os pontos de inflexão, caso existam.

Exemplo 1

Analise a Concavidade: f(x)=2x33x212x,xR.

Solução

Calculando as derivadas:

f(x)=6x26x12f(x)=12x6.

O sinal de f é dado por :

f(x)>0x(1/2,+);  f(x)<0x(,1/2)

Assim, pelo Teorema 1, a f tem concavidade para cima em (1/2,+) e para baixo em (,1/2), sendo, portanto, x=1/2 ponto de inflexão.

Exemplo 2

Analise a Concavidade: f(x)=x2ex,xR.

Solução

Calculando as derivadas:

f(x)=2xex+x2exf(x)=4xex+2ex+x2ex=ex(x2+4x+2).

Como ex>0, o sinal de f só depende do sinal de x2+4x+2, mas x2+4x+2=0x=2±2 e sendo a concavidade da parábola y=x2+4x+2 para cima, temos :

f(x)>0x(,22)(2+2,+);  f(x)<0x(22,2+2)

Assim, pelo Teorema 1, a f tem concavidade para cima em (,22)(2+2,+) e para baixo em (22,2+2), sendo, portanto x=2±2 dois pontos de inflexão.

Exemplo 3

Analise a Concavidade: f(x)=xln(x), x(0,1)(1,+).

Solução

Calculando as derivadas:

f(x)=ln(x)1[ln(x)]2;  f(x)=2ln(x)x[ln(x)]3

Para determinarmos o sinal da f, vamos fazer o produto dos sinais entre 2ln(x) e [ln(x)]3, pois como x>0, o termo x não precisa entrar no cálculo do sinal.

x (0,1) 1 (1,e2) e2 (e2,+)
2ln(x) + + + 0
[ln(x)]3 0 + + +
hlinef(x) + 0

Logo, vemos que a concavidade é para cima em (1,e2) e para baixo em (0,1)(e2,+). Temos que x=e2 é o único ponto de inflexão. Note que, como 1D(f), então, segundo a definição, x=1 não pode ser ponto de inflexão.

Exemplo 4

Observe os gráficos abaixo e identifique os gráficos correspondentes às funções f, f e f.

Solução

Começamos olhando os extremos locais que correspondem a raízes (interseções com o eixo x) no gráfico da derivada. O gráfico laranja tem mínimo local entre 1 e 2 e o azul tem interseção com o eixo x no mesmo ponto. O azul tem máximo local entre 2 e 3 e o verde tem zero no mesmo ponto. Parece que o gráfico laranja é da f, o azul da f e o verde da f. Para confirmarmos, olhamos o crescimento da função laranja e comparamos com o sinal da função em azul, e , de fato, sinal negativo da azul corresponde a laranja descrescente e sinal positivo, à crescente. Observe que o mesmo ocorre entre o gráfico azul e o verde.

Ao relacionarmos um extremo local à concavidade de um gráfico, somos levados à seguinte imagem intuitiva: "Em um ponto máximo local de uma função "suave", o gráfico tem concavidade para baixo numa vizinhança desse máximo e, se o ponto for um mínimo local, então a concavidade será contrária."

De fato, o próximo teorema, conhecido como Teste da Segunda Derivada, nos mostra que a concavidade numa vizinhança de um ponto crítico define a natureza do ponto extremo local. Ele é bastante útil quando o estudo do sinal da derivada de primeira ordem é complicado.

Teorema 2

(Teste da Segunda Derivada) Dada uma função f, de classe C2 numa vizinhança de um ponto crítico cD(f), isto é, tal que f(c)=0. Então,

  • se f(c)>0 x=c é ponto de mínimo local da f;

  • se f(c)<0 x=c é ponto de máximo local da f;

No resultado anterior, note que a derivada de segunda ordem só é calculada no ponto crítico!

Exemplo 5

f(x)=xln(x), x(0,1)(1,+).

Solução

Estudamos a concavidade desse gráfico no exemplo 3, note que o único ponto crítico dessa função é x=e, que anula f(x). Além disso, pelo estudo do sinal da f(x), vemos que f(e)>0, logo x=e é um ponto de mínimo local.

Exemplo 6

f(x)=x+2cos(x),x[0,2π];

Solução

Primeiro vamos determinar os pontos críticos da função em [0,2π] :

f(x)=12sen(x)=0sen(x)=1/2.

Assim, os pontos críticos são x=π/6 e x=5π/6. Mas, f(x)=2cos(x) e calculando nos pontos críticos, temos

f(π/6)=2cos(π/6)=3<0;  f(5π/6)=2cos(5π/6)=2(3/2)=3>0

Logo, do Teorema 2, segue que x=π/6 é ponto de máximo local e x=5π/6 é ponto de mínimo local da f.